domingo, 20 de janeiro de 2013

Presente de véspera


   Eu pensei que você ia me dar uma caixinha colorida, com um laço bem bonito; uma coisa para eu guardar na escrivaninha, para eu lembrar toda a véspera de natal. Mas eu até desacreditei quando notei que era algo diferente, mas mesmo assim isso me deixou contente.
   Você me fez uma surpresa, com cara de princesa e um presente diferente.
   Seu embrulho me parecia bem resistente, era feito de um pano grosso, parecia jeans, com um zíper bem na frente então saímos de onde estávamos e discretamente nos pusemos a andar e nos entreolhar.                                                                                                                                                         
   Caminhamos a rua de sua casa e também da minha, e víamos as pessoas a beber e se divertir, justamente na véspera de Natal. Momento de distração de todos e de minha atenção mental para o ilustre final daquela noite que eu não queria que acabasse. Na entrada da minha casa você me perguntou se tinha alguém lá dentro, então pedi para que você esperasse enquanto eu verificava se alguém estava em casa. 
   Eu ansiava para saber o que eu iria receber naquela noite; rapidamente voltei e falei que não havia ninguém. Cada vez mais longe ficavam os gritos da multidão em grande parte bêbada e eu cada vez mais dentro de casa ciente de tudo. Quando entramos em casa e eu tranquei a porta e você me disse qual era a grande surpresa; fiquei afoito sem saber o que dizer; só perguntei se você tinha certeza de que realmente era isso que me seria entregue, então você disse que sim. 
   Nós nos beijamos intensamente, e te encostei na parede e durante aquele beijo minha passava pelo teu corpo. E de repente ouvi você dizer que queria me presentear, queria saber como era a sensação de entregar algo tão valioso para mim. Isso aumentava meu prazer, ainda mais quando eu via o teu braço todo arrepiado e teus olhos a olhar para o teto buscando de alguma forma se alimentar de prazer. Fomos andando e nos agarrando firmemente, até a entrada do quarto. 
   Quando abri a porta, de imediato caímos na cama e nos entrelaçamos mais ainda. Foi ali que recebi o presente de véspera; só agora entendi o presente coberto por um jeans com um zíper no meio, no qual e fiz questão de abrir e retirar a proteção vagarosamente olhando para a sua face de desejo e com um pouco de receio; mas eu não me contive, quando vi por completo o que era, enlouqueci; esqueci do mundo e o que eu queria era somente aproveitar a véspera. Dentro da casa ouvíamos os gritos de quem procurava por ti e por mim, mas estávamos longe demais para voltar atrás. 
   Continuei com o que eu estava fazendo, olhando a tua cara de prazer. - Nossa! Disse eu. O presente era novo, ninguém havia visto, ainda estava lacrado de nascimento e eu mesmo sem merecer, mesmo com o diabo em mim ia ser o primeiro a desvendar o que ali havia. Adentrei as portas da tua pureza e olhava a tua cara de dor; dor e prazer misturados. Ali se consumou a realização do prazer, ali eu fui Moisés, abri o caminho para o povo cativo passar.
   Então recebi o meu presente, pena que durou tão pouco, pena que não quis mais repetir a sua entrega.
   Sorte que existe uma coisa que me conforta; 

   Certo dia eu vi do muro que passava de mãos dadas com um simples rapaz, que agora é dono do que eu fui um dia, mas meu interior me dizia: 

- Receba agora do mundo o presente bom da vida novo dono, saiba que eu fui o primeiro a estar na terra prometida, o primeiro a provar a tua inércia. E agora seja quem for que chegue a ti menina, receberá nada mais nada menos as migalhas que deixei sobre a mesa. E tu, indivíduo, será como o porco que come as sobras que deixo, e enquanto esta moça viver sempre lembrará de nossa noite de véspera de Natal.

Escritor:

Kael